6 de jul. de 2006

O Louco


"Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:
Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas - as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas - e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando: "Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"
Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.
E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: "É um louco!" Olhei para cima para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: "Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!"
Assim me tornei louco.
E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós."
Extraído do livro "O Louco" de Gibran Khalil Gibran

2 comentários:

Irmão Fabiano disse...

Porra, tesão o texto. Tem alguma coisa a ver por te chamarmos de Louco, Irmão Éder???

Irmão Eder disse...

É, talvez, embora a fase de louco tenha passado, já que era louco por "filosofar com o monitor" segundo Irmão Colpani. Já que gostou do texto, vou postar regularmente mais alguns textos desse mesmo autor, tem uns muito bons.